segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nazistas do espaço


O roteiro mais criativo que vi este ano não veio de nenhuma produção norte-americana badalada. É da Finlândia uma das idéias mais insanas, ousadas e inteligentes que já vi nos últimos tempos: Invasão nazista, exibido no último Festival de Berlim, não chegou a ser lançado nos cinemas, mas está disponível na rede – e aqui sem qualquer culpa ou condenação porque parece que a intenção era essa mesma, deixá-lo na plataforma virtual para que alcançasse o maior número possível de espectadores.

À primeira vista, a premissa parece uma daquelas provocações bobas típicas de estudante adolescente querendo fazer graça com assunto sério. Pode até ser, mas é tão bem conduzida e realizada que se torna quase obrigatório tirar o chapéu para a criatividade da idéia. Vejam só: em 1945, percebendo que perderão a Segunda Guerra Mundial, os nazistas reúnem suas lideranças, seus cientistas e seus pensadores e os mandam para a Lua. Depois de 73 anos, em 2018, eles estão prontos para atacar o planeta, desta vez partindo do espaço. Daí por diante, é um alvoroço para tentar conter o clima apocalíptico e a histeria generalizada que se espalha pelo mundo com a possibilidade de invasão em massa de uma horda de zumbis espaciais.

Não sei se os realizadores envolvidos acreditaram no potencial da história e resolveram filmá-la a sério ou se quiseram fazer um dos mais divertidos filmes trash dos últimos anos. O fato é que havia um risco grande de desperdiçar a idéia se o conjunto não fosse bem realizado. Restariam as boas intenções e uma enorme sensação de frustração pelo grande filme que poderia ser e não foi (e isso é muito comum). Mas, para o bem de todos, Invasão nazista funciona muito bem, em todos os sentidos: a produção é cuidadosa, a direção de arte é bastante competente na construção do universo paralelo dos nazistas, os efeitos especiais são ótimos, o roteiro não deixa furos e os intérpretes, que poderiam derrubar o filme com atuações caricatas, seguram as pontas, transmitindo credibilidade aos seus papéis.



Talvez o fato de ser uma produção européia justifique tantas provocações do roteiro, tocando em temas delicados ao cinema norte-americano. Alguns exemplos. No ano em que se passa a história, os EUA têm uma mulher na presidência, cujo nome nunca é pronunciado, mas sabe-se tratar-se de Sarah Palin, até pela semelhança fisionômica entre a candidata e a atriz que a interpreta. O “primeiro-marido” não tem voz ativa nem função política definida e sai para jogar golfe enquanto a esposa se reúne na cúpula da ONU. Lá, há piadas envolvendo o representante da Coréia do Norte, que sempre assume para si a autoria dos ataques terroristas (mesmo que sejam cometidos por naves extraterrestres!). Quando a nave norte-americana chega à Lua, é o astronauta negro quem é designado para explorar a área; ele acaba capturado pelos nazistas que o submetem a um processo de “albinização” e vira branco. Consegue escapar, mas permanece assim por três anos, período durante o qual sobrevive pedindo esmolas pelas ruas de Washington. Há uma grande gozação-homenagem com O grande ditador, de Chaplin (o filme é exibido editado nas escolas nazistas e apresentado como curta-metragem!) e várias referências, as mais óbvias sendo Jornada nas estrelas e Guerra nas estrelas, mas quem prestar atenção vai perceber também brincadeiras com A queda – As últimas horas de Hitler, entre outros.


 É a estréia em longas do jovem diretor Timo Vuorensola, de apenas 32 anos, que antes havia feito apenas um curta e um vídeo. E ele gosta de provocar: seu próximo projeto tem o sugestivo título de Eu matei Adolf Hitler, que bem pode servir como continuação desse delírio visual, uma explosão de criatividade que justifica a cinefilia de qualquer um.

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