O roteiro mais criativo que vi
este ano não veio de nenhuma produção norte-americana badalada. É da Finlândia
uma das idéias mais insanas, ousadas e inteligentes que já vi nos últimos
tempos: Invasão nazista, exibido no último Festival de Berlim, não
chegou a ser lançado nos cinemas, mas está disponível na rede – e aqui sem
qualquer culpa ou condenação porque parece que a intenção era essa mesma,
deixá-lo na plataforma virtual para que alcançasse o maior número possível de
espectadores.
À primeira vista, a premissa
parece uma daquelas provocações bobas típicas de estudante adolescente querendo
fazer graça com assunto sério. Pode até ser, mas é tão bem conduzida e
realizada que se torna quase obrigatório tirar o chapéu para a criatividade da
idéia. Vejam só: em 1945, percebendo que perderão a Segunda Guerra Mundial, os
nazistas reúnem suas lideranças, seus cientistas e
seus pensadores e os mandam para a Lua. Depois de 73 anos, em 2018, eles estão
prontos para atacar o planeta, desta vez partindo do espaço. Daí por diante, é um alvoroço para tentar
conter o clima apocalíptico e a histeria generalizada que se espalha pelo mundo
com a possibilidade de invasão em massa de uma horda de zumbis espaciais.
Não sei se os realizadores envolvidos acreditaram
no potencial da história e resolveram filmá-la a sério ou se quiseram fazer um
dos mais divertidos filmes trash dos últimos anos. O fato é que havia um risco
grande de desperdiçar a idéia se o conjunto não fosse bem realizado. Restariam
as boas intenções e uma enorme sensação de frustração pelo grande filme que
poderia ser e não foi (e isso é muito comum). Mas, para o bem de todos, Invasão nazista funciona muito bem, em
todos os sentidos: a produção é cuidadosa, a direção de arte é bastante
competente na construção do universo paralelo dos nazistas, os efeitos
especiais são ótimos, o roteiro não deixa furos e os intérpretes, que poderiam
derrubar o filme com atuações caricatas, seguram as pontas, transmitindo
credibilidade aos seus papéis.
Talvez o fato de ser uma produção européia
justifique tantas provocações do roteiro, tocando em temas delicados ao cinema
norte-americano. Alguns exemplos. No ano em que se passa a história, os EUA têm
uma mulher na presidência, cujo nome nunca é pronunciado, mas sabe-se tratar-se
de Sarah Palin, até pela semelhança fisionômica entre a candidata e a atriz que
a interpreta. O “primeiro-marido” não tem voz ativa nem função política
definida e sai para jogar golfe enquanto a esposa se reúne na cúpula da ONU.
Lá, há piadas envolvendo o representante da Coréia do Norte, que sempre assume
para si a autoria dos ataques terroristas (mesmo que sejam cometidos por naves
extraterrestres!). Quando a nave norte-americana chega à Lua, é o astronauta
negro quem é designado para explorar a área; ele acaba capturado pelos nazistas
que o submetem a um processo de “albinização” e vira branco. Consegue escapar,
mas permanece assim por três anos, período durante o qual sobrevive pedindo
esmolas pelas ruas de Washington. Há uma grande gozação-homenagem com O grande ditador, de Chaplin (o filme é
exibido editado nas escolas nazistas e apresentado como curta-metragem!) e
várias referências, as mais óbvias sendo Jornada
nas estrelas e Guerra nas estrelas,
mas quem prestar atenção vai perceber também brincadeiras com A queda – As últimas horas de Hitler,
entre outros.
É a estréia em longas
do jovem diretor Timo Vuorensola, de apenas 32 anos, que antes havia feito
apenas um curta e um vídeo. E ele gosta de provocar: seu próximo projeto tem o
sugestivo título de Eu matei Adolf Hitler,
que bem pode servir como continuação desse delírio visual, uma explosão de
criatividade que justifica a cinefilia de qualquer um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário