quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Festival do Rio - tá acabando a maratona...

Penúltimo dia do Festival do Rio. Os filmes que vi hoje:

ERÓTICA AVENTURA – Mais um filme francês com pretensões intelectuais, apoiado em conceitos psicanalíticos. Só que desta vez há o que dizer. Uma jovem rompe com o namorado e parte em busca de novas experiências sexuais. Acaba conhecendo um especialista em hipnose que a levará, e outras duas mulheres, ao orgasmo mais intenso de suas vidas. Muito boa a maneira como as idéias são abordadas pelo roteiro, por meio de conversas simples, e tudo acontece de forma bem natural, sem forçar a barra. Há até uma tentativa de introduzir conceitos básicos da relação BDSM, com uma das pacientes sendo questionada sobre seu papel erótico (ela seria submissa), mas essa linha não segue adiante. Cenas de sexo lésbico excitantes e muito bem filmadas. Infelizmente, o filme é prejudicado pela presença inteiramente descabida de um personagem secundário, um professor de física que virou taxista (!!!) e dá lições de filosofia à protagonista. Nada a ver, portanto. No meio da projeção, houve uma pausa para a troca de rolo do filme – a sessão começou com atraso de 10 minutos. O que, no Festival do Rio, muitas vezes, pode ser fatal. * *

PURGATÓRIO – Entrou de última hora na minha programação, só para encher o espaço entre uma sessão e outra. Adaptação de três contos do escritor mexicano Juan Rulfo, um dos grandes autores da literatura latino-americana. A primeira história é sobre um camponês que abandona a família para tentar a sorte na então incipiente Cidade do México dos anos 50. A segunda narra o encontro de um coveiro e uma prostituta. A última mostra a agonia de um velho coronel apaixonado por uma jovem que o despreza. Nenhuma das histórias chega a empolgar. O filme só vale pela deslumbrante fotografia, em tons expressionistas, com filtragens coloridas nas duas primeiras histórias, e criativo uso de sombras na terceira, a única a cores. Mas é melhor ler Juan Rulfo e conhecer seu universo do que ver o filme. * *

CORAÇÕES EM CONFLITO – Comecei a freqüentar o Festival do Rio em 2002. O melhor filme que vi naquele ano foi Para sempre Lilya, do sueco Lukas Moodysson. Conheci a obra toda dele posteriormente. Sou fã do diretor, a quem considero ousado na abordagem de certos temas e corajoso por abrir o debate sobre temas polêmicos. Seus dois últimos filmes, porém, me deixaram a impressão de que ele vinha trilhando um caminho perigoso, buscando o choque gratuito e a experimentação narrativa sem sentido (refiro-me a Um vazio no meu coração e Contêiner). Dentro de sua obra, este aqui é o seu filme mais “normal”. Leo (Gael García Bernal, neutro como sempre) é um executivo do ramo de videogames que passa grande parte de seu tempo viajando a trabalho, deixando a esposa Ellen (Michelle Williams, cada vez melhor como atriz), que é médica, sozinha com a filha pequena deles. Há ainda a babá filipina, Glória (Marife Necesito), que cuida da menina como se fosse sua, e sonha em voltar para seu país, onde ficaram seus dois filhos. Em uma das viagens Leo conhece uma garota tailandesa, com quem insinua um caso, enquanto Ellen, às voltas com o caso de um menino ferido mortalmente, começa a se questionar como mãe ao perceber que sua filha demonstra mais interesse pelo universo da babá. O título do filme remete a um dramalhão mexicano típico, e o roteiro quase conduz a narrativa para esse lado. Só que tudo é muito frio, distanciado, impedindo que o espectador se envolva realmente com o destino dos personagens. Leo é uma figura antipática, parecendo se divertir em um mundo paralelo. Ellen é uma mulher à beira de um ataque de depressão e Glória representa a imensa massa proletária que aceita ganhar uns trocados em terra estrangeira pelo sonho de dar uma vida melhor à sua família. No fim, fica a impressão de que passamos duas horas diante da tela vendo uma história absolutamente banal, igual a tantas outras que já foram contadas, e sem que sequer cheguemos a nos identificar a fundo com qualquer um dos personagens. Locações nos EUA, Filipinas e Tailândia. Curiosidade: em determinado momento, aparece uma foto do Cristo Redentor pregada na porta da sala dos médicos. * *

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