Há duas semanas, por ocasião do
lançamento do filme 12 horas, escrevi
aqui no blog: “pode ser bom ou ruim”. Depois de ter conferido a fita no cinema,
estou inclinado a concordar com a segunda opção. Mas há ressalvas.
Jill Parrish (Amanda Seyfried,
linda, linda, linda, mesmo quando aparece descabelada e suja de terra) tem um
trauma que a acompanha há um ano, quando foi seqüestrada no meio da noite e
jogada em um buraco em um gigantesco parque de Portland, onde vive. Mas
conseguiu escapar de seu seqüestrador quando este já se preparava para matá-la.
Agora, o pesadelo está de volta quando sua irmã Molly é atacada pelo mesmo
criminoso. Jill se desespera e procura a polícia, mas ninguém consegue levá-la
a sério. Por dois motivos: nunca foram encontrados vestígios do seqüestro de
que ela diz ter sido vítima (curioso que nunca usam esse termo, só “abdução”,
“abduzida”, o que pode levar o espectador desinformado a imaginar que o algoz
das meninas seja um extraterrestre!); e seu histórico psicológico conturbado,
que a levou a ficar internada em uma clínica para doentes mentais, na base de
remédios, até que a irmã se propôs cuidar dela. Revoltada com a inoperância das
autoridades, Jill resolve agir por conta própria e empreende uma investigação
particular para libertar Molly. E o tempo escorre pelos dedos: ela tem apenas
12 horas para conseguir isso, ou sua irmã será assassinada.
Em linhas gerais, é isso aí. A
estréia do brasileiro Heitor Dhalia no cinema norte-americano poderia ter
resultado em um filme tenso e minimamente absorvente. Ele mostra eficiência na
condução dos atores, consegue boas tomadas das inúmeras perseguições que
recheiam a trama, mas, como diretor contratado, não pode fazer muito mais que
isso. Também foi muito prejudicado por um roteiro extremamente frágil, cheio de
furos e estruturado unicamente em ações improváveis, pior ainda por ser de uma
autora experiente e conhecida, Allison Burnett (Outono em Nova York ,
Sem vestígios). Mesmo correndo contra
o tempo e tendo a polícia, que deveria auxiliá-la, em seu encalço (porque foi
checar o que achava ser uma pista e acabou ameaçando um comerciante com uma
arma), tudo acontece muito fácil para Jill. Todas as dicas vão aparecendo sem
muita complicação, todos parecem bonzinhos e dispostos a ajudar – até um
vizinho recluso se dispõe a passar uma informação que futuramente se mostrará
valiosa.
Para conseguir atingir seus objetivos, a garota inventa histórias, às
vezes absurdas, e banca a louca, como na seqüência em que engana duas meninas
prometendo arrumar-lhes ingressos para um show de Justin Bieber! Nenhuma
situação é plenamente crível, nenhuma se sustenta por si só, tudo anda em linha
reta. Parece que Jill age e é guiada de acordo com o bom humor do acaso e, com
isso, vai chegando cada vez mais perto do homem que levou sua irmã. Essa falta
de plausibilidade básica me lembrou Encurralados,
com Pierce Brosnan, Maria Bello e Gerard Butler, outro filme em que os personagens
seguem uma lógica imprevisível para que seus planos tenham êxito. A diferença é
que naquele filme há uma coerência interna mínima que ajuda o roteiro a
funcionar. Aqui fica a impressão de que está tudo jogado, “pronto”, só falta
Jill chegar ao lugar marcado e prender o cara (e para mim ela tem olhos verdes,
e não azuis, como é dito ao longo do filme todo).
Não fosse por Amanda Seyfried e
pelo nome brasileiro na assinatura da direção, o filme não mereceria maior
atenção do público. A julgar por este trabalho, Dhalia precisará de muito mais
do que 12 horas para provar seu talento em Hollywood. De
preferência, com um roteiro mais consistente. Para mim, o filme já tem uma
marca especial, porque foi o primeiro que assisti em um shopping do Rio, no
caso, o Cinemark Botafogo.
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