Alguém já disse que as séries de
TV são a novela do século XXI. Se isso é verdade, então sou um noveleiro de
primeira linha. Gosto muito, acompanho várias ao mesmo tempo, baixo episódios
da internet quando não consigo ver na televisão. Bem que tento me segurar, mas
não consigo. É um vício insanável. E, se analisarmos bem, as séries de TV hoje
estão em nível bem melhor que o cinema norte-americano. O que se comprova com a
migração de alguns astros e estrelas da sétima arte para o universo televisivo
– Dustin Hoffman, Nick Nolte, Anjelica Houston, por exemplo, dão expediente na
telinha. Hoje inicio uma leva (eu ia escrever “série”, mas seria um trocadilho
muito idiota) de artigos e colunas abordando as séries que assisto – leva que
pode aumentar gradativamente, à medida que eu for descobrindo outras atrações e
me tornando fiel a elas.
ALCATRAZ
Onde e quando: Warner, primeira
temporada encerrada.
Estrelas: Sarah Jones, Jorge
García e Sam Neill.
Sinopse: No dia 21 de março de 1963, a prisão de Alcatraz
foi oficialmente fechada. Os 306 prisioneiros que lá cumpriam pena deveriam ser
transferidos para outras unidades carcerárias, mas desapareceram no trajeto,
junto com os guardas que os escoltavam. Cinqüenta anos depois, eles começam a
reaparecer, um por um, praticando os mesmos delitos de antes. Com um detalhe
intrigante: têm a mesma aparência, como se o tempo nunca tivesse passado. Uma
policial investiga o mistério, tendo como ajudante um professor nerd.
Por que ver: A mesma turma que
fez Lost voltou a se reunir na
tentativa de reeditar aquele sucesso: J.J. Abrams na criação da idéia, Jack
Bender na direção de alguns episódios e Elizabeth Sarnoff produzindo. Ou seja,
a série já nasceu com selo de qualidade. Também reeditaram a parceria com o
gorducho García, inclusive conferindo-lhe um personagem com certas semelhanças
ao seu inesquecível Hurley. Tudo isso facilita a empatia por parte do público,
que acompanha a série como se estivesse reencontrando velhos amigos. O ponto de
partida é original e deixa no ar a pergunta: o que, afinal, aconteceu naquele
dia? A cada semana, novas revelações vão sendo feitas, mantendo o clima de
suspense e tensão o tempo todo. Ótima fotografia em tons escuro-azulados realça
o clima sombrio da narrativa.
Por que não ver: Por mais que
tentem, vai ser difícil criar um novo Lost,
como foi a intenção inicial dos envolvidos no projeto. Alcatraz é bem-intencionada em relação a isso, mas é só. O mistério
até se sustenta, mas as explicações ficam longe das teorias conspiratórias que
faziam o sucesso daquela série. Além disso, erraram ao dar a Jorge García um
personagem muito semelhante ao Hurley, no caso, aqui, ele é um professor
fanático por cultura pop (curte games e quadrinhos) que acaba sendo envolvido
na investigação, já que teria escrito um livro sobre a ilha de Alcatraz anos
antes. Os produtores devem ter percebido esse erro de composição e atenuaram
algumas de suas características pouco depois de a série começar, certamente por
rejeição do público. A estrutura narrativa repetitiva também cansa: primeiro,
apresenta-se o criminoso nos anos 60, corta para o tempo atual e dá-se início à
busca para prendê-lo. Com tudo isso, Alcatraz
não é ruim. Dá para ver, gostar e até acompanhar com interesse. Mas não sai
da escotilha.
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